Portugal 28 agosto, 2019

Museu Nacional do Azulejo: uma grande viagem pela história do azulejo

Após conhecer o magnífico Convento da Madre de Deus, vamos explorar o Museu Nacional do Azulejo que ele abriga desde 1965.

O Museu Nacional do Azulejo é uma referência nacional e internacional, pois apresenta a história e a evolução da arte do azulejo em Portugal do século XVI à atualidade.

Origem do Azulejo em Portugal

A palavra azulejo provém do vocábulo árabe “al-zulaich”, que significa “pequena pedra polida”.

De origem egípcia, a decoração cerâmica foi introduzida na península Ibéria, pelos árabes, durante o Século VIII. 

Em Portugal, sua utilização começou nos finais do século XV, quando em 1498, D. Manuel I contactou a Azulejaria de Sevilha para decorar o Palácio Nacional de Sintra.

O azulejo começou a ser fabricado em Portugal na primeira metade do século XVI. E no século XVII, com o aumento da produção, Lisboa consagrou-se como o maior centro cerâmico nacional.

Retratando a cultura e a história, o azulejo superou a função utilitária, conquistou nível artístico e tornou-se uma das maiores expressões da cultura portuguesa!

O Museu Nacional do Azulejo e a história do azulejo

O Museu começa sua exposição por uma breve apresentação das técnicas de manufatura do azulejo, seguindo uma ordem cronológica pelas diferentes salas.

A coleção de utensílios técnicos é composta por artefatos usados na produção de azulejos e cerâmicas tridimensionais, mecanismos de tratamento e formatação dos barros, laboração dos vidrados, decoração e enforno.

Parte dos utensílios da antiga Fábrica Lusitânia de Lisboa e uma maquete de um dos fornos da Fábrica de Louça de Sacavém fazem parte desta coleção.

Século XVI

A exposição começa com exemplares hispano-mouriscos, de corda-seca e aresta, do início século XVI. Alguns dos azulejos desta sala foram encomendados por D. Manuel I para decorar o seu Palácio da Vila de Sintra.

Em seguida, estão os azulejos feitos com uma técnica inovadora, desenvolvida na Itália – a faiança ou majólica- que tornava possível a pintura direta sobre o azulejo liso, sem que as cores se misturassem durante a cozimento. Esta técnica permitiu a realização de grandes composições figurativas. E foi através dela, que a azulejaria portuguesa se desenvolveu a partir de meados do século XVI.

Retábulo Nossa Senhora da Vida

Uma das primeiras obras-primas da azulejaria, o Retábulo Nossa Senhora da Vida é um conjunto de 1498 azulejos criado em 1580 e atribuído ao pintor Marçal de Matos. O grandioso painel cobriu a Igreja de Santo André, situada junto ao Castelo de S. Jorge. As imagens representam a Anunciação e o nascimento de Cristo, e possui grande quantidade de tonalidades para criar a ilusão de tridimensionalidade. A área vazia, no topo do painel, ao centro, correspondia a uma janela, cujo sentido simbólico era o de permitir a entrada da Luz, o caminho que a Pomba do Espírito Santo utilizou para chegar a Maria.

Século XVII

As padronagens marcaram a primeira metade do século XVII, o chamado Período Filipino. Deste período, são exemplos os motivos italo-flamengos, as padronagens tipo tapete como as pontas de diamante, camélias, parras, conchas, marvila, entre outras.

Podem também ser observadas no Museu pequenos painéis – registos – com cenas religiosas de execução muito ingênua; e os frontais de altar, ricos tecidos fingidos decorados com motivos de influência oriental.

A azulejaria desta época, encomendada pelo Clero para valorizar os espaços religiosos, era executada por artesãos e aprendizes. As cores mais frequentes eram o azul e o amarelo.

Claustrim Manuelino

O espaço dedicado ao Museu Nacional do Azulejo não poderia ser melhor, uma vez que o Convento da Madre de Deus já possuía amplas áreas revestidas com azulejos. Os azulejos azuis e amarelos em enxaquetado rico do século XVII que decoram as paredes do Claustrim Manuelino são oriundas do extinto Convento de Sant’Anna, em Lisboa.

Sala de Caça

No primeiro andar do Museu Nacional do Azulejo está a “Sala da Caça”. Neste ambiente estão expostos seis painéis da segunda metade do século XVII, originários do Palácio da Praia, em Lisboa. Após a Restauração da Independência, em 1640, a Nobreza começou a encomendar painéis com temas não religiosos para decorar os seus palácios. As caçadas, atividade nobre desta época, constituem uma das cenas mais representadas.

Escadaria de São Bento

Os ‘azulejos de grotesco’, com cenas burlescas, fantásticas inseridas num contexto sem nexo, constituem uma das mais significativas manifestações do gosto maneirista na azulejaria portuguesa do século XVII. Ao mesmo tempo, a monumentalidade associada aos padrões adaptados a espaços cada vez mais complexos, levou à criação dos revestimentos de escadaria, dos quais um dos principais exemplos é o da Escadaria de S. Bento, que apresenta a particularidade do corte feito em losango, para acompanhar a inclinação da rampa.

Século XVIII

A policromia dos azulejos do século XVII dá lugar ao azul sobre fundo branco no século XVIII, combinação de influência holandesa e da porcelana chinesa. Este contraste evidencia o valor e a qualidade do traço e os artistas produzem painéis com desenhos mais trabalhados, passando a assinar suas obras, num período conhecido como Ciclo dos Mestres. Gabriel del Barco, Manuel dos Santos, António Pereira e a família dos Oliveira Bernardes são alguns exemplos deste período, em que foram produzidas grandes composições cenográficas, característica marcante do barroco, com motivos do quotidiano, temáticas figurativas e vegetalistas.

Grande Panorama de Lisboa

No terceiro piso do Museu Nacional do Azulejo está também uma das obras mais emblemáticas da azulejaria portuguesa: o “Grande Panorama De Lisboa”. Trata-se de um painel com 23 metros de comprimento e mais de 1000 azulejos produzido pelo pintor Gabriel del Barco no início do século XVIII. A obra de grande valor histórico, constitui a iconografia em azulejos mais completa da cidade de Lisboa, representando uma vista panorâmica de 14 quilômetros de sua costa antes do terremoto de 1755.

A segunda metade do século XVIII foi conhecida pelo Ciclo da Grande Produção. Nesta época, a fabricação de azulejos aumentou consideravelmente, e nomes como Teotónio dos Santos, Bartolomeu Antunes e Nicolau de Freitas ficaram bastante conhecidos.

O século XVIII trazia o rococó da França inclusive para os azulejos. Assim, há o retorno da policromia no amarelo, verde e violeta, incluindo o azul cobalto, além da maior leveza e graciosidade que os ornamentos adquirem. As flores e as folhas adquirem maior relevância, e aconchegam as cenas bucólicas e idilizadas pelos mestres da azulejaria.

Porém após o terremoto de 1755, a necessidade de reconstrução de Lisboa impôs outro ritmo na produção de azulejos de padrão, designados pombalinos, usados para decoração dos novos edifícios. Os azulejos passam a ser fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais.

História do Chapeleiro

Constituindo um belíssimo exemplar dos finais do século XVIII, quando o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero, está o conjunto intitulado “História do Chapeleiro”, exposto no Museu Nacional do Azulejo. 

Neste período, a burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios, e os painéis contam por vezes a história da família e até da sua ascensão social, como a de António Joaquim Carneiro. A obra retrata a transição de sua infância e vida no campo a rico fabricante de chapéus. Em nosso vídeo, exibimos estes painéis e sua história em detalhes.

Ver Vídeo No YouTube

Século XIX

A partir do século XIX, o azulejo ganha mais visibilidade e passa a ser utilizado nas fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitetura. A paisagem urbana ilumina-se com a luz refletida nas superfícies vidradas. Neste período, a produção azulejar passa a utilizar técnicas semi-industriais, como a estampilha ou estampagem, decorando as superfícies do azulejo por meio da utilização de moldes de metal ou decalques.

Século XX

O Museu Nacional do Azulejo reserva parte de seu espaço para exposição de peças da azulejaria moderna e experimentações pós-modernas, que demonstram a força desta arte que se perpetua na cultura portuguesa.

Exposições Temporárias

Em estreita ligação com o patrimônio azulejar apresentado no Museu Nacional do Azulejo, são integrados outros objetos de cerâmica às exposições permanentes ou em exposições temporárias. Atualmente, há uma exposição temporária dedicada ao design para a cerâmica industrial portuguesa entre guerras, intitulada “Tempos Modernos”. Veja algumas fotos do conjunto de peças de uso doméstico que apela à memória coletiva do país.

O Museu Nacional do Azulejo abriga em seus domínios uma extensa coleção que conta desde como o azulejo é fabricado, sua história, tendências e outros aspectos importantes que envolvem esse elemento decorativo e simbólico – uma das maiores expressões da cultura portuguesa.

Não deixe de conhecer esse museu incrível de Lisboa através de nosso vídeo no YouTube e acompanhe as próximas descobertas da BeSisluxe Tours em Portugal!