Cultura 15 novembro, 2022

Uma visita ao Picadeiro Real e Museu Nacional dos Coches

In this article, we are going to get to know the Picadeiro Real, the place where, for many years, the National Coach Museum was based .

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Picadeiro Real

Em 1726, o rei D. João V de Portugal adquiriu um vasto terreno junto ao rio Tejo, que deu origem ao Picadeiro Real.

Neste espaço, funcionava a Real Picaria que serviu de escola de equitação à Família Real.

Após um período de declínio, o Picadeiro Real deixou de ser palco de grandiosos espetáculos e passou a servir apenas de cocheira. 

Por ser uma pessoa de enorme cultura e sensibilidade, a rainha D. Amélia decidiu tornar pública a coleção de carruagens da família Real.

No início do século XX, em 1904, o arquiteto da corte Rosendo Carvalheiro adaptou o Picadeiro ao museu, conseguindo uma harmonia quase perfeita entre o espaço e a exposição das carruagens de gala.

E em 1905 foi inaugurado o então Museu dos Coches Reais, constituído por viaturas dos séculos XVII a XIX, até então dispersas por vários palácios.

Arquitetura e decoração do Picadeiro

Aqui no antigo salão do Picadeiro Real foi instalado o primeiro museu dos coches do mundo.

Para receber o museu, o Picadeiro Real teve o pavimento de areia substituído por lajes de granito, e as arcadas foram abertas no piso térreo.

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O Picadeiro Real é um espaço interessante, representativo do século XVIII.

Projetado em estilo neoclássico, o amplo salão possui 50 m de comprimento. 

Em toda a decoração, predominam elementos ligados à arte equestre.

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No teto, destacam-se os 3 medalhões ovais pintados com cenas alegóricas.

O primeiro medalhão mostra um cavaleiro, símbolo de Portugal.

À sua volta, as figuras femininas representam os quatro continentes.

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No medalhão central, vemos uma figura feminina, com uma coroa.

Na sua mão, a cornucópia da Abundância, símbolo da Paz e Prosperidade do Reino.

Já no terceiro medalhão, observamos a Alegoria da Guerra.

Uma figura armada conduz uma quadriga puxada por leões, ladeada pela figura da Vitória.

Piso Superior

No piso superior, estão as tribunas, ligadas por estreitas galerias com colunatas.

Era daqui, que a Família Real e a Corte assistiam aos jogos equestres.

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O acervo do museu aumentou ao longo dos anos, especialmente após a Implantação da República em 1910.

Vários coches e berlindas da família Real passaram a fazer parte da coleção.

Muitos destes veículos foram encomendados à França e Itália.

Mas é Portugal que possui a mais importante coleção de coches e berlindas do mundo.

Os “coches” são carruagens antigas, normalmente usados em cerimônias solenes.

As peças possuem detalhes surpreendentes!

As viaturas tinham luxuosos bancos de veludo e eram decoradas com desenhos em ouro e os brasões da família real.

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Coche de D. Carlota Joaquina

Um dos coches em destaque é o de D. Carlota Joaquina, mãe de D. Pedro I, Imperador do Brasil. 

Chegou a Portugal em 1785, para o casamento de D. Carlota Joaquina de Bourbon com o futuro Rei D. João VI. 

O seu exterior é decorado em couro preto e as portinholas apresentam escudo duplo, com as armas de Portugal e Espanha.

No final do século XVII, surgiu a Berlinda, mais leve e rápida. 

Berlinda de D. Maria I

Uma preciosidade encontrada aqui é a Berlinda de D. Maria I, também conhecida como “Maria, a Louca”.

Esta viatura, decorada em estilo francês. foi usada na cerimônia de consagração da Basílica da Estrela, em Lisboa, no ano de 1790.

Com o aumento do turismo, surgiu a necessidade de se obter mais espaço para acomodar  a coleção de coches em todo seu esplendor. 

E foi então em 2010 que o novo edifício do Museu começou a ser construído.

O Picadeiro Real foi mantido em memória da rainha D. Amélia, pelo  excelente trabalho de proteção e divulgação deste patrimônio.

A alguns metros do Picadeiro Real, encontramos o novo núcleo do Museu Nacional dos Coches.

Museu Nacional dos Coches

Este novo espaço foi inaugurado em 2015, exatamente 110 anos depois do primeiro museu.

Chamado de Museu Nacional dos Coches desde 1911, aqui podemos ver o excelente trabalho de proteção e divulgação deste patrimônio nacional. 

No salão principal deste grande complexo, estão as estrelas do museu: os magníficos coches. 

O edifício abriga a maior parte da coleção de carruagens de gala e de passeio de Portugal.

O projeto do novo edifício é assinado pelo arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, em parceria com Ricardo Bak Gordon.

Nas palavras do próprio arquiteto: “o museu não tem porta e relaciona-se para todos os lados”. 

O número de janelas foi racionado para respeitar a fotossensibilidade das peças aqui expostas.

Este espaço mostra a evolução técnica e artística dos meios de transporte utilizados pelas cortes europeias, até o aparecimento do automóvel.

COCHES DO MUSEU

Coche do Rei Filipe II

No primeiro andar, encontramos o coche de D. Filipe II.

Este é o veículo mais antigo da coleção. 

Em 1619, o coche foi utilizado pelo rei espanhol D. Felipe II para uma visita a Portugal.

Ao chegar em Lisboa, este coche foi muito admirado por ser uma grande novidade. 

Nesta época, os coches eram feitos para serem utilizados pelas damas, enquanto os homens andavam a cavalo.

A corte espanhola quebrou este paradigma ao utilizar os coches como veículo de aparato e locomoção.

Coches de D. Maria Francisca de Sabóia

Estes dois coches vieram da França, com a princesa Maria Francisca de Sabóia.

Os coches foram oferecidos pelo rei Luís XIV, para o casamento de sua prima D. Maria Francisca com o rei D. Afonso VI, em 1666.

Este modelo apresenta uma inovação: a quinta roda, que facilitava as manobras.

De caixa fechada, com 8 janelas de vidro, apresenta motivos florais pintados nos painéis laterais.

Nas portinholas, medalhões ladeados com as iniciais da rainha.

Estes exemplares únicos são parte de uma enorme coleção de coches do rei Luís XIV de França, que desapareceu devido aos inúmeros conflitos ocorridos no país.

Coche de D. Maria Ana de Áustria

Outro coche que veio a Portugal com uma princesa foi o de D. Maria Ana da Áustria.

Este é um dos coches mais exuberantes da coleção!

D. José I da Áustria mandou construí-lo para o casamento de sua irmã, D. Maria Ana com o rei de Portugal D. João V. 

A sua caixa, decorada em estilo francês Luís XIV, é inteiramente dourada. 

Nas portinholas e alçados, podemos observar as armas de Portugal no escudo oval, com a coroa da Arquiduquesa no topo.

O leão coroado faz alusão às virtudes da rainha e ao Poder Real.

Importância de D. João V

O Rei D. João V teve grande importância na história dos coches. Foi ele o responsável pela encomenda da maioria dos coches desta coleção.

A sua utilização simbolizava poder e prestígio.

Coche Privado de D. João V

Um dos grandes exemplos é o Coche Privado de D. João V. 

Chamam a atenção as pinturas e entalhes primorosos.

As molas de suspensão são decoradas com figuras femininas.

Uma particularidade exclusiva deste coche são os detalhes nas rodas, exibindo os 12 signos do zodíaco.

Os vidros presentes em todos os lados do veículo expressam o desejo do Rei D. João V de ser visto por onde passasse em seu coche.

Coches da Embaixada

Alguns exemplares são verdadeiras obras de artes!

É o caso dos Coches da Embaixada.

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Estes veículos triunfais fizeram parte do cortejo da Embaixada ao Papa Clemente XI, enviada a Roma pelo rei D. João V, em 1716. 

O cortejo integrava 5 coches temáticos e 10 de acompanhamento.

Com objetivo diplomático, o cortejo cumpriu o seu papel de ostentar a riqueza do império português.

O Coche do Embaixador, o Coche dos Oceanos e o Coche da Coroação de Lisboa, foram construídos em Roma e revelam a grande qualidade artística do barroco italiano.

– Coche dos Oceanos

Em posição de destaque, está o magnífico Coche dos Oceanos!

A decoração evidencia o domínio de Portugal nos mares, exaltando este grande império das navegações. 

A caixa também é aberta, construída em estilo “à Romana”, revestida em veludo de seda vermelha. O seu interior é trabalhado em brocado de ouro.

De grande carga simbólica, o coche representa um episódio da história marítima de Portugal.

Duas figuras que representam o Oceano Atlântico e o Oceano Índico, dão as mãos, simbolizando a passagem do Cabo da Boa Esperança pelos portugueses em 1487.

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Ao centro está Apolo, ladeado pelas figuras da Primavera e do Verão. 

Na parte dianteira, as figuras do Outono e Inverno sustentam o banco do cocheiro.

As figuras mitológicas das Estações do Ano possuíam grande expressão no período barroco.

Coche da Mesa ou Troca das Princesas

Outro destaque do museu é o Coche da Mesa.

O nome do coche deve-se à mesa de centro que se encontra no interior. 

Com bancos confortáveis, mesa e cortinas, o coche servia para refeições e descanso da Família Real. 

De caixa octogonal, apresenta vidros apenas nas portinholas.

O interior é revestido em veludo carmesim e o teto é franjado em ouro.

Este coche é um modelo único. 

Ficou conhecido por ter sido usado em 1729 na cerimônia da Troca das Princesas, realizada sobre o rio Caia, na fronteira entre Portugal e Espanha.

O coche levou a princesa D. Maria Bárbara, de Portugal, para casar com o herdeiro da coroa espanhola, Fernando VI.

E no regresso, trouxe a infanta espanhola D. Mariana Vitória para casar com o futuro rei de Portugal, D. José I.

O duplo casamento traduz o reatar das boas relações diplomáticas entre Portugal e Espanha

Os coches e berlindas que fizeram parte desta viagem são testemunhas deste grande evento.

No século XIX, surgiu a carruagem, um veículo de origem inglesa.

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Carruagem da Coroa

Um dos destaques é a Carruagem da Coroa.

Em estilo império, a carruagem foi encomendada em Londres, para o rei D. João VI.

A caixa é decorada por colunas, com pequenas águias no topo.

O interior é forrado em seda branca acolchoada em capitonné. No tejadilho, a Coroa Real.

Esta carruagem foi a última a ser utilizada por um membro da família real em 1957, quando a rainha Isabel II da Inglaterra visitou Portugal.

Viaturas Eclesiásticas

Após esta data, as únicas berlindas utilizadas eram Viaturas Eclesiásticas. 

Os membros do alto clero tinham estatuto equiparado ao da Nobreza.

Possuíam suas viaturas próprias, mas também se beneficiavam dos transportes sem rodas, como as liteiras e cadeirinhas.

Evolução das viaturas – carros pretos feitos em série

Continuando a visita, percebemos que a decoração exuberante vai desaparecendo. 

A praticidade e a necessidade passam a ser valorizadas e aos poucos vemos a produção artesanal dar lugar à fabricação em série.

Landau do Regicídio

Um dos últimos exemplares a entrarem para a coleção do museu foi o Landau do Regicídio. 

Foi construído em Portugal no final do século XIX para a família real portuguesa. 

Este carro está associado ao episódio trágico da história de Portugal, que mencionamos anteriormente: o Regicídio que vitimou o Rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro, D. Luis Filipe. 

As marcas das balas ainda são visíveis.

Ao final da exposição, conseguimos perceber a evolução técnica das viaturas, até a chegada do primeiro automóvel a circular em Portugal. 

E terminamos por aqui o nosso passeio pelo Museu Nacional dos Coches! Obrigada por sua companhia! E espero por você em nosso próximo encontro!

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