Cultura 21 janeiro, 2020

Museu do Oriente: o espaço dedicado às relações históricas entre os portugueses e os povos asiáticos

Lisboa é uma cidade que oferece uma seleção atraente de museus, como o Museu do Traje, o Museu do Fado, o Museu Militar, o Museu dos Coches, dentre outros que já apresentamos anteriormente.

Vamos agora para a região de Alcântara conhecer o Museu do Oriente! Uma viagem por cinco séculos de cultura, contada através da história e das tradições vivas da Ásia!

Inaugurado em 2008, o Museu do Oriente é um espaço de conhecimento e partilha, dedicado às relações entre os portugueses e os povos asiáticos. Venha conosco conhecer o seu acervo de enorme riqueza histórica e descobrir as influências exercidas entre culturas tão diversas!

As exposições permanentes do Museu do Oriente dividem-se em duas grandes coleções:

A primeira, alusiva à presença portuguesa na Ásia, é constituída por objetos artísticos e documentais, adquiridos pela Fundação Oriente desde a sua constituição.

O segundo grande acervo encontra-se reunido sob a designação de Colecção Kwok On, constituída por milhares de testemunhos das artes performativas de toda a Ásia e das grandes narrativas e religiões populares.

Presença Portuguesa na Ásia

No primeiro andar encontramos as exposições permanentes sobre a Presença Portuguesa na Ásia e o Colecionismo de Arte do Extremo Oriente. O conceito deste grande módulo expositivo foi baseado no comércio, na missionação e no encontro das culturas oriental e portuguesa.

Macau

A exposição começa por Macau, território outrora sob administração portuguesa. Um dos grandes destaques é o magnífico biombo chinês com a representação de uma nau portuguesa nos mares da China.

Neste módulo expositivo destacam-se ainda várias pinturas e gravuras do chamado período “China Trade” (séculos XVIII-XIX), de autores ocidentais e chineses.

A importância de Macau no comércio internacional está extensivamente documentado nas coleções de porcelana brasonada da Companhia das Índias, formando, na disposição de pratos, travessas, terrinas ou jarras, um dragão. 

Na coleção do museu há também alguns exemplares das primeiras encomendas específicas para o mercado português de porcelanas chinesas no século XVI, decoradas com motivos portugueses da esfera armilar, das armas reais, do monograma IHS e de brasões de armas de homens ilustres.

Guiados pelas palavras de Camões em ‘Os Lusíadas’ e pelas palavras de Fernão Mendes Pinto em ‘Peregrinação’, procurou-se documentar o estabelecimento e a construção do Império Português no Oriente, a partir de uma criteriosa seleção de objetos como mobiliário, têxteis, ourivesaria, prataria, pintura, marfins, mapas e maquetes.

Ásia Oriental

Na Ásia Oriental, os portugueses descobriram a cultura do Império do Meio e o lucrativo comércio de produtos de luxo. 

A Igreja Cristã na China foi iniciada pelos missionários e os soldados, que nesta época, acompanharam os comerciantes.

Neste núcleo, o destaque da coleção é o biombo intitulado “do Coromandel”, com interessante iconografia cristã, representante da escola de pintura criada no Japão pelos Jesuítas, e que posteriormente se estendeu a Macau. 

Japão

O encontro com o Japão nos séculos XVI e XVII é ilustrado por dois biombos e por lacas de Arte Namban, que estão entre as mais relevantes peças de toda a coleção do Museu.

Nos biombos de composição narrativa, representa-se a nau, kurofune, e sua tripulação, cuja perícia nos mastros tanto espanto causou entre os japoneses. Observe nas fotos dos biombos a representação do cortejo, alvo do olhar atento dos habitantes locais, composto pelo capitão-mor, fidalgos mercadores, religiosos, escravos e intérpretes.

Birmânia

Os Portugueses chegaram à Birmânia por volta de 1511 e mantiveram por lá o comércio de produtos como os tecidos de Coromandel e o ópio de Aden, que se trocavam por arroz, azeite de peixe, madeira de construção naval, almíscar, ouro e pedras preciosas. As lacas viriam também a ser um produto amplamente produzido para exportação em duas versões: negra e dourada e vermelha e negra.

Em exibição no Museu do Oriente está um conjunto de lacas vermelhas e negras, do século XIX, provenientes da Birmânia.

Timor-Leste

A exposição Timor-Leste – povos e culturas, documenta os estreitos laços mantidos com Portugal, através de peças usadas no cotidiano e que ressaltam as tradições. Os potes, colheres, o descaroçador ou o banco nos mostram o cotidiano, enquanto as pulseiras, os colares, as insígnias de poder ou as facas de circuncisão nos projetam no universo cerimonial e ritual, tal como acontece com as diversas máscaras presentes. Os vários têxteis, tecidos pelas mulheres timorenses, ilustram os patrimônios das comunidades, enquanto as portas e os painéis decorativos nos projetam à casa timorense.

Coreia

No módulo coreano estão expostas uma caixa em madeira lacada com incrustações de madrepérola e uma curiosa série de aquarelas dos finais dos anos oitocentos (da autoria do pintor coreano Kim Jun-geun, conhecido pelo nome artístico de Kisan,) sobre trajes, costumes e festas da Coreia, realizadas para o mercado europeu e americano.

Colecionismo de Arte do Extremo Oriente

A exposição colecionismo de arte do Extremo Oriente, é constituída de terracotas (esculturas em barro/cerâmica) e antiguidades chinesas, japonesas e coreanas, adquiridas pela Fundação Oriente e ainda acervos em depósito provenientes do Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, em que se destacam os legados do poeta Camilo Pessanha e do político e escritor Manuel Teixeira Gomes.

A Colecção Pessanha nos mostra, entre outros objetos, os rolos e álbuns de pintura tradicional chinesa e de caligrafia.

Como parte da exposição ‘Colecionismo de arte do Extremo Oriente’ encontram-se peças da Coleção Pessanha que remetem ao ambiente e o gosto artístico de um letrado chinês dos anos oitocentos, incluindo trajes e leques, as taças de libação, entre outro objetos decorativos e de uso pessoal que evocam as tradições chinesas.

Destaca-se também a notável coleção do político e escritor Manuel Teixeira Gomes, contendo frascos de rapé chineses, além de peças japonesas como os pequenos exemplares de inrô (pequenos contentores portáteis pessoais), o netsuke (artefato em forma de máscara, que serve para segurar o inrô ao cinto) e o tsuba (guarda-mãos da espada japonesa), as três monumentais armaduras e outros objetos de cerâmica, bronze, pintura e mobiliário.

A entrada das naus de Vasco da Gama no Oceano Índico, no final do século XV, representou o início de uma mudança estrutural das relações euro-asiáticas, desencadeando o processo de globalização. Os portugueses levaram seus hábitos, crenças e instituições, e encontraram a milenar civilização chinesa. Louças de porcelana, artigos de seda, mobílias, tapeçarias e tantos outros objetos chineses de decoração e de uso cotidiano foram adaptados aos gostos ocidentais.

Igreja de Santana de Talaulim

O Museu do Oriente tem como parte se seu acervo peças que referenciam a Igreja de Santana de Talaulim localizada em Goa, obra emblemática da arquitetura religiosa católica na Índia. A maquete da Igreja mostra a influência da presença portuguesa neste território, catalisadora de encontros que se expressam, por exemplo, no patrimônio edificado.

Missionação

A missionação portuguesa teve diversas iniciativas e projetos de carácter religioso e espiritual no sentido de difundir o Cristianismo na Ásia, com desenvolvimentos diferenciados. Nos primeiros navios que deixaram Lisboa, embarcaram religiosos franciscanos e mais tarde, os Jesuítas, a quem cabia cativar a corte imperial. Certos da dificuldade em tornar interpretáveis alguns dos dogmas católicos aos olhos e consciência dos mandarins, a ação missionária assentou na troca de conhecimentos de caráter científico, matemático e de astronomia, indispensáveis à correta fixação do calendário anual chinês. Surge assim uma nova característica na missionação: a adaptação dos missionários às características dos povos a evangelizar, principalmente em termos de língua e costumes.

Gres, celadon e porcelana

O núcleo do Museu do Oriente reservado à cerâmica e porcelana chinesa, de uso cotidiano e de exportação, documenta a evolução das técnicas ao longo dos anos. A dinastia Ming (1368-1644) representa um marco fundamental na história da porcelana, quando há uma busca por novas formas, pela predominância e gosto pela decoração pintada, pelo emprego da porcelana em detrimento do grés e da terracota.

Portugal desempenhou um papel pioneiro nas encomendas de porcelana chinesa. O Museu do Oriente reúne um conjunto de peças de exportação para o mercado ocidental decoradas com cenas europeias, datadas dos séculos XVII a XIX.

Agrupado segundo temáticas tão diversas como a marítima, a expansão da fé cristã, os prazeres da vida ao ar livre, a música, dança e poesia, temas satíricos, anedóticos, históricos, entre outros, este conjunto resulta de encomendas inspiradas em pinturas e iconografias europeias. Os artesãos chineses reproduziam estas referências em coloridas representações em azul e branco, ou esmaltes da “família rosa”, grisaille, preto, sépia e dourado sobre o vidrado.

Coleção Kwok On: ‘A Ópera Chinesa’

O Museu do Oriente apresenta ‘A Ópera Chinesa’, como a grande exposição da coleção Kwok On, oferecendo uma visão abrangente deste singular gênero performativo em toda a sua diversidade e exuberância.

A exposição se propõe mostrar, através das histórias, objetos e personagens que a compõem, um universo pleno de simbolismo e grande riqueza material. Considerada um dos tesouros culturais da China, a ópera tradicional surgiu em finais do século XI, em uma síntese de várias artes, que engloba canto, música, fala, mímica, dança, técnicas de maquilhagem, acrobacia e artes marciais com manipulação de adereços como armas, barbas e leques.

Os instrumentos musicais desempenham papel fundamental na ópera chinesa. Sopros, cordas e gongos que acompanham as representações e marcam, através do ritmo, as entradas dos protagonistas e as cenas de grande dramatismo, como batalhas, salvamentos heroicos ou atos de vilania. A tradicional orquestra tinha cerca de 9 músicos e era colocada no palco, ao lado direito do espectador e não no fosso da orquestra, como no Ocidente. Veja as fotos dos instrumentos musicais das orquestras de Pequim e Cantão expostos no Museu do Oriente!

Tradicionalmente representada com cenários muito básicos, a principal característica da Ópera Chinesa é estar no ponto oposto do realismo. A voz nunca é natural e os movimentos, muito estilizados e simbólicos, exprimem os sentimentos da personagem de acordo com um rigoroso imperativo estético. Na exposição do Museu do Oriente dedicada a esta arte performática, pode ser visto um conjunto de cerca de 280 peças da coleção Kwok On, tais como trajes, perucas, toucados, marionetes, pinturas, bem como fotografias e vídeos.

Trajes, maquiagem e acessórios são essenciais para identificar os tipos de personagens presentes na Ópera Chinesa. Cada personagem tem um rosto típico que revela seu sexo, sua idade, assim como seu status social, ideais estéticos ou heroicos. A maquiagem é artificialmente exagerada, assim como o figurino e o gestual, definindo os temperamentos de cada um. O uso e a escolha das cores também constitui uma arte em si. Além das funções estéticas, as diferentes cores se combinam para expressar as personalidades dos papeis quando aplicadas a diferentes padrões.

Como parte do testemunho material desta arte performativa repleta de simbologia e conotações implícitas, os toucados são uma das várias partes integrantes dos trajes utilizados nas Óperas Chinesas. Desde os modelos mais simples até os ricamente trabalhados, os toucados coroam as personagens completando seus complexos trajes.

Da excelência dos atores – que têm obrigatoriamente de dominar uma série de disciplinas artísticas – depende o sucesso da produção e o prestígio da companhia de Ópera Chinesa. Assim, os papéis masculinos dividem-se em homens idosos, jovens e guerreiros; e os papéis femininos por sua vez, em mulher idosa, mulher virtuosa, cortesã ou criada, guerreira e jovem de famílias distintas; a estes juntam-se ainda os rostos pintados e os palhaços. Estas tipologias, suas características e elementos diferenciadores estão ilustrados no núcleo das Personagens no Museu do Ocidente.

Mergulhando os visitantes na experiência do espetáculo, a exposição exibe a recriação do camarim da Ópera Chinesa. Os atores especializavam-se num tipo de papel, como se vê na recriação deste camarim, onde se encontram algumas das pinturas de Mei Lan-Fang (1894-1961), um dos atores que fizeram papéis femininos mais célebres. Nascido numa família de atores, é um dos responsáveis pela internacionalização da Ópera Chinesa entre as duas guerras mundiais.

A exposição ‘A Ópera Chinesa’ do Museu do Oriente também apresenta vestes, máscaras e outros acessórios usados em danças rituais que antecediam a ópera e visavam garantir a proteção dos deuses para os atores e o público.

O vasto repertório da Ópera Chinesa inclui comédias de costumes, histórias de amor, peças históricas e mitos fundadores da China. No núcleo dedicado ao Repertório exploram-se quatro das suas mais célebres histórias: A História dos Três Reinos, A Viagem ao Ocidente, A Lenda da Serpente Branca e O Pavilhão da Ala Oeste. Através delas é possível perceber os vários papéis da ópera na cultura e sociedade chinesas: a crítica de costumes, a exultação das virtudes guerreiras e morais, o temor aos deuses, a transmissão da sabedoria dos antepassados, entre outras.

A vasta coleção foi reunida a partir de recolhas efetuadas ao longo de décadas em diversos países da Ásia, e que continua acontecendo anualmente, renovando a coleção em constante atualização.

Várias peças aqui expostas são modelos únicos ou extremamente raros, mesmo nos principais museus da especialidade.

Exposição Temporária

O Museu do Oriente dispõe ainda, de uma área de exposições temporárias e de um espaço multiusos com programação cultural diversificada, incluindo espetáculos musicais, dança, teatro e cinema.

A exposição temporária “Império Invisível” e a Fotografia no Sião é umas das exposições que visitamos no Museu do Oriente! Ali foram expostos os registros de dois fotógrafos portugueses que documentaram a família real, bem como a vida do palácio, a paisagem urbana e rural do reino asiático, durante os 60 anos em que foram os fotógrafos oficiais da corte.

Terminamos por aqui a nossa visita ao Museu do Oriente, um espaço que reúne as tradições culturais da Ásia em Portugal!

Clique abaixo e confira no vídeo a nossa visita às suas exposições e veja as coleções de peças de enorme valor histórico e beleza!